O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se enfiou numa polêmica, nesta quarta-feira, ao se posicionar contra a obrigatoriedade do uso de máscaras numa entrevista no Canal Terça Livre, uma das plataformas dos blogueiros bolsonaristas nas redes sociais.
Escorregadio, Queiroga deu uma dourada em sua declaração, argumentando que existem muitas leis no Brasil que não são cumpridas e que o uso da máscara não deveria ser obrigado, mas um ato de conscientização.
É verdade que Queiroga, desde que assumiu o Ministério da Saúde, nunca defendeu a obrigatoriedade, mas sempre usou e defendeu o uso da máscara como condição essencial para evitar a propagação do coronavírus. A posição ajudava aos Estados e Municípios que decretaram o uso obrigatório do item de combate ao covid-19.
Por que, então, externa, agora, uma declaração que enfraquece a posição de governadores e prefeitos e encoraja os negacionistas de uma maneira geral?
A declaração do ministro Marcelo Queiroga cumpre um objetivo jurídico-político. Produz argumento para a defesa do presidente Jair Bolsonaro em dois pedidos de investigação encaminhados pelo PT e pelo Psol ao STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a conduta do Chefe do Executivo Nacional em eventos no Rio Grande do Norte nos quais ele não usa o equipamento e ainda tira a máscara de uma criança.
Observe-se que a declaração do Ministro da Saúde veio um dia após o fato ganhar polêmica pública a partir de dois pareceres enviados pelo subprocuradora da República, Lindôra Araújo, ao STF, não apenas sustentando não haver crime na conduta de Bolsonaro, mas afirmando inexistir pesquisas científicas que comprovem a eficácia da máscara como proteção ao coronavírus. A subprocuradora é do grupo do procurador Augusto Aras.
O ministro Marcelo Queiroga passou o dia explicando sua fala, mas sustentando sempre não ver necessidade de obrigatoriedade para o uso de máscaras. Contrariou a comunidade científica, que se disse incrédula com a posição.
Na outra ponta, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) soltou nota citando estudos científicos sobre a eficácia da máscara como proteção ao coronavírus.
Diversos jornais e portais não deixaram de anotar que Queiroga, na verdade, apenas reforçou seu alinhamento com o Bolsonaro. Fez mais: preparou discurso para uma defesa em duas notícias-crime no STF. O vírus e a ciência, neste momento, são apenas detalhes.
Fonte: Josival Pereira