Segundo informações da Polícia Civil, a esposa do pastor, conhecida como Vânia, também está sendo investigada no caso, já que os valores recebidos pelo pastor, iriam para uma conta em nome da esposa. A prisão da mulher também foi decretada pela Justiça e ela também é considerada foragida.
A delegada que investiga o caso, Andreia Melo, disse em entrevista à TV Cabo Branco, que desde o meio do ano o casal está desaparecido, mas a Justiça acatou o pedido de prisão da polícia somente no dia 22 de setembro.
Pastor diz que estava com cartões
Em um vídeo veiculado nas redes sociais, o pastor negou as acusações de que tenha praticado estelionato contra fiéis da congregação Assembleia de Deus, no bairro de Mangabeira, em João Pessoa. A esposa dele também aparece nas imagens. Ele disse que durante certo período, realmente utilizou cartões de fiéis da igreja para fazer compras.
“Eu fiz algumas coisas na igreja. Reformas, trabalhos, salas, auditórios e salas de músicas. Alguns irmãos emprestaram cartões e eu fui pagando. Tem cartões que há mais de um ano eu venho comprando e pagando nas datas certas, até antes”, disse.
Na versão do pastor, no entanto, ele diz que desde meados deste ano surgiram dificuldades para pagar os valores nos cartões de crédito dos fiéis.
“(As dívidas) foram apertando desde junho e eu fui pedir ajuda ao meu superior, pra me ajudar a pagar os cartões. Quando chegou naquele momento, quem deveria ajudar, eu pedi essa ajuda, disse que eu trouxesse as pessoas, e visse como era a maneira de fazer”, relata.
Sobre as denúncias que surgiram contra ele, o pastor ainda afirmou nesse vídeo que sofreu pressão psicológica e também houve uma tentativa de suborno.
“Essa pessoa que foi dar queixa-crime na delegacia, você sabe quem é você. Você que disse que eu não me preocupasse, que eu poderia deixar sujar o nome do cartão dos irmãos da igreja, que você parcelaria e ganharia desconto. Eu disse ‘eu não posso fazer isso, sou pastor de lᔑ.
Além disso, o pastor Péricles afirmou também apesar do mandado de prisão ter sido expedido oficialmente, ele não se considera um “fugitivo” e, alega inocência.
“Eu não fugi e não sou ladrão. Estou bem perto, mas eu vou chegar. Está tudo com o meu advogado, ele vai abrir uma queixa contra você que deu entrada na delegacia contra mim e minha esposa, e o restante que botou (as denúncias), vou ver de que maneira fizeram, porque a verdade vai ser dita, eu vou dizer tudo, quem pegou juros, quem me subornou e quem ficou fazendo pressão psicológica”, disse.
Defesa diz que pastor pode se entregar nesta semana
O advogado Robério Capistrano, que representa tanto Péricles Cardoso de Melo quanto a esposa Vânia, disse em entrevista para a TV Cabo Branco que a pretensão do pastor era se entregar até a última semana, após fazer um tratamento de saúde. No entanto, de acordo com essa versão, ele tomou um susto quando se deparou com o mandado de prisão contra si e, principalmente, contra a esposa.
“Na sexta-feira (22), eu tive acesso a todo processo. Foi quando eu observei que tinha um mandado de prisão, até então não sabíamos da existência desse mandado. A surpresa foi ter um também contra a esposa dele, uma pessoa que não tem nada a ver no empréstimo desses cartões”, ressaltou.
Além disso, o advogado falou ainda que o pastor queria “se entregar bem antes”, mas recomendou para seguir tratamento de saúde.
“Ele queria se entregar bem antes, quando eu conversei com ele na sexta, quando expliquei a ele a situação do mandado de prisão. Ele disse ‘vamos nos entregar’. No entanto, ele teve uma piora, que ele saiu daqui para descansar, para fazer um tratamento, para tomar remédio, para vir tranquilo e responder tanto na delegacia quanto judicialmente. Ele ficou surpreso pelo mandado, aí eu disse para se tratar primeiro para se apresentar”, completou.
Inicialmente, Robério Capistrano disse que estava marcado para esta segunda-feira (2) ou terça-feira (3), a data para o pastor se apresentar. Agora a expectativa é de que isso possa acontecer ainda essa semana, “a depender do estado emocional dele”.
Entenda o caso do pastor
De acordo com a polícia, mais de 30 vítimas de golpes foram identificadas no inquérito. A congregação onde ele era pastor também foi vítima de furto, estimado em R$ 17 mil. O pastor está foragido desde sexta-feira (22), quando teve prisão decretada.
Além disso, de acordo com a superintendente da Polícia Civil de João Pessoa, Sileide Azevedo, as vítimas já foram ouvidas após boletim de ocorrência registrado pelo pastor presidente da Assembleia de Deus em João Pessoa, responsável por 150 igrejas congregadas, quando informado em reunião sobre a ação do pastor.
O suspeito agia de diversas formas, utilizando a condição de pastor e da confiança que os fiéis tinham nele. O golpe foi aplicado por meio de empréstimo de dinheiro em espécie, cartões com senha, cheques e notas promissórias. Até mesmo foram feitos financiamentos de veículos em nomes de fiéis. O valor que deveria ser pago mensalmente não era devolvido.
Sobre a dinâmica dos golpes, a delegada Andreia Melo disse que a condição de ser pastor foi primordial para conseguir a confiança dos fiéis.
“Ele pedia dinheiro emprestado de um pra pagar conta de outro. Ele era uma pessoa muito bem quista dentro da igreja, porque ele fazia muitas ‘obras sociais’, ele ajudava muito as pessoas, dava cestas básicas, pagava contas de luz, pagava cartão de crédito de uma pessoa que tava precisando, pagava conta de água, e com isso ele ia conquistando a confiança daquelas pessoas”, explica.
No entanto, também conforme a delegada, essa “ajuda” do pastor gerava situações posteriores em que ele pedia favores financeiros aos fiéis para, com isso, conseguir vantagens financeiras.
“Ninguém podia dizer um não para ele, porque ele era uma pessoa extremamente querida e respeitada dentro da comunidade. Então ele chegava chorando para as pessoas, dizendo que tava precisando daquele dinheiro, que não tinha conseguido arrecadar o dinheiro da parcela da casa que a igreja havia comprado e pedia o valor ao fiel, que emprestava”, ressaltou.
A polícia conseguiu informações de que durante anos o pastor tinha esse tipo de atuação em relação aos fiéis, mas desde o começo de 2023 o homem não conseguiu mais pagar algumas contas feitas com os dados das vítimas e isso se tornou uma bola de neve.
“Durante anos ele utilizou vários cartões de crédito de fiéis, que ele realmente tinha a posse dos cartões, a senha, e ele passava o cartão e pagava, mas nesse pedido constante as coisas começaram a desandar. Do final de 2022 para o começo desse ano, ele começou a atrasar alguns pagamentos e isso se tornou uma bola de neve, com juros de cartão de crédito e juros de empréstimo”, disse.
A delegada Andreia Melo também confirmou ao g1 que pediu a quebra do sigilo bancário de Péricles Cardoso à Justiça, no entanto, ainda não teve o pedido atendido.
Fonte: Portal Correio
Foto: Reprodução/Redes sociais