De surpresa, a mãe de Letycia, Cintia Pessanha Peixoto Fonseca, preparou um bolo no final do mês com o tema “de repente 31”, e as referências às boas-vindas ao novo integrante da família se davam por imagens de uma cegonha de uma grávida, que representava Letycia. No entanto, no momento do crime, a mãe viu as reações da filha ao ser baleada e a imagem no bolo lembrava à cena da morte da filha.
O aniversário de Letycia seria comemorado no início de fevereiro, já que normalmente a festa abrange também o seu pai, Alcimar Freitas Fonseca, que comemora no dia anterior: ele no dia 1º, ela no dia 2.
— Decidi que, neste ano, eu faria o bolo para ela e o Hugo. Devido à correria do verão, a moça que faria o bolo estava sobrecarregada e o meu marido, que trabalha como caminhoneiro, não estaria presente. Por isso adiei — conta Cintia, que encomendou o bolo para o último fim de semana de fevereiro.
O adiamento, no entanto, coincidiu com a comemoração dos 33 anos de casamento de Cintia e Alcimar. A filha, por sua vez, achava que o bolo devia celebrar a união dos pais.
— Falei para ela escolher o sabor do bolo, mas ela dizia que não. Mas a convenci, já que argumentei que grávida tem desejo. Ela escolheu de baba de moço e brigadeiro. Quando, no dia 26, fomos pegar o bolo, e ela vê que o bolo era para ela, você tinha que ver a minha filha. ela ficou muito feliz — lembra Cintia.
Ao fim da semana, Cintia viu a filha ser morta na sua frente. Ela desembarcara do carro pilotado pela filha, na rua Simeão Schremeth, e viu dois homens em uma moto se aproximando:
— Como o vidro era transparente, eu vi toda a cena. No primeiro tiro, ela colocou a mão sobre o rosto e eu ouvi seu último grito. No segundo, ela colocou a mão na barriga, da mesma forma que a boneca que estava no bolo que fizemos para comemorar os 31 anos dela e a chegada do Hugo,. Com o pipoco, o sangue começou a vazar. Parecia um jato d’água. Você vê alguém dando um tiro na cabeça da sua filha grávida e entro em desespero: corri para tentar segurar o atirador.
A investigação do caso está a cargo da 134ª DP (Campos). Nesta segunda-feira, a delegada titular da unidade, Natália Patrão, concedeu entrevista coletiva e detalhou a investigação e os depoimentos colhidos pela unidade.
Alvo de tiros na Rua Simeão Schremeth, no bairro Parque Aurora, Letycia foi socorrida pela família. Sua mãe, Cintia Peixoto Fonseca, que tentou correr atrás de um dos criminosos, foi atingida por um tiro. Mesmo ferida, contou com o auxílio de um tio para tirar a filha do volante e levá-la a um hospital da cidade. A vítima morreu ao chegar na unidade.
O bebê que esperava, Hugo Peixoto Fonseca, chegou a nascer com vida, mas morreu no dia seguinte ao crime. Mãe e filho foram enterrados na noite de sexta-feira.
Também ocupante do veículo, Simone Peixoto, de 50 anos, viajava no banco do carona. Mesmo sem ser atingida, ficou coberta pelo sangue de Letycia e agora convive com o trauma. Segundo Célio Peixoto, irmão de Simone, ela tem síndrome de Down e, se antes falava pouco, agora se mantém calada e chora com frequência, lembrando do crime.
Companheiro de Letycia, o professor e empresário Diogo Viola de Nadai é considerado por pessoas próximas à vítima como alguém de poucas palavras e que não gosta de aparecer em fotos. Considerado suspeito pela Polícia Civil, dormiu na casa da mãe de Letycia no dia do crime e carregou o caixão do bebê durante o sepultamento.
Gerente de uma distribuidora de Campos, Letycia era formada em Engenharia de Produção. As instituições em que ela estudou emitiram notas de pesar. A Universidade Candido Mendes, onde fez a graduação, definiu Letycia como uma “excelente aluna”. Já a direção-geral do campus Guarus (Campos dos Goytacazes) do Instituto Federal Fluminense, local em que fez curso técnico em Eletrônica, manifestou sua solidariedade aos familiares e amigos da ex-aluna.