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Mais de 59 mil pessoas estão na fila de espera de transplante de órgãos. Mas, somente em 2022, mais de 45% das famílias com casos de morte encefálica não concordaram com a doação dos órgãos do paciente. Na comemoração do Dia Nacional da Doação de Órgãos, o Ministério da Saúde lançou, nesta terça-feira (27), a Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos e Tecidos de 2022.

Com o lema “Amor para superar, amor para recomeçar”, a pasta visa convencer a população sobre a importância da doação de órgãos e conscientizar os profissionais de saúde que lidam com essa situação delicada para as famílias.

O secretário executivo da pasta, Bruno Dalcolmo, que está como ministro substituto, destacou a amplitude e o longo trabalho realizado no progrma. “Ter um programa de referência, como é o do Brasil, talvez o principal programa de transplantes do mundo não é algo trivial. É algo que foi construído ao longo de décadas, ao longo de muitos anos, de muito esforço e de um conjunto muito grande de pessoas, tanto na sociedade civil quanto no poder público e, obviamente, também das empresas privadas”, frisou.

Segundo o gestor, o papel da iniciativa privada é vital, uma vez que as companhias, com destaque para o setor aéreo, “têm contribuído cada vez mais com a promoção, a divulgação e, nesse caso aqui concretamente, com o transporte de algo que é tão sensível e de tamanha importância”.

Em números absolutos, o Brasil lidera o ranking mundial de doação e transplantes de órgãos e tecidos dentre todos os países que possuem sistema público de saúde no mundo, segundo dados do Observatório Mundial em Doação e Transplante. No entanto, o número de doações vem caindo no país.

“Nós tínhamos um quadro de 18.1 [doadores por milhão da população] em 2019, caímos para 15.8 durante a pandemia e persiste ainda em 15.1 em 2021. Já observamos a melhora em 2022, mas ainda com algumas diferenças importantes, regionais”, comentou a secretária de Atenção Especializada à Saúde, Maíra Botelho.

Para reverter esse cenário, a campanha será veiculada em TV, rádio, mídia exterior – como outdoors –,  em lugares de grande circulação de pessoas, em sites na internet, bem como nas redes sociais. A decisão quanto à doação de órgãos, nos casos de pessoas com morte encefálica, cabe aos familiares, e é por isso que o foco da ação também vai ser em mostrar a importância de conversar e manifestar o desejo da doação para os familiares. “Melhorar a recusa familiar, aprimorar a abordagem familiar para a gente conseguir avançar na doação efetiva”, é o que a gestora avalia ser a forma mais eficaz para rever a situação.

Relatos de transplantados

O evento, realizado no auditório do Ministério da Saúde, também contou com a participação de duas pessoas diretamente envolvidas com a doação de órgãos. Eduardo da Costa Oliveira, de 27 anos, teve um coração transplantado há 10 anos e comentou o que mudou na sua vida depois de ter recebido o “sim” de uma família doadora, após dois anos na fila de espera.

“Quando eu recebi alta, eu pude fazer o que eu nunca pude fazer antes, que é a questão da infância, eu sair na rua, tomar banho, andar, correr. Então, o transplante, graças à doação de órgãos, eu pude fazer tudo isso”. Para o jovem, doação de órgãos se resume a uma palavra: vida. “Eu que pensava que antes ia morrer a qualquer hora, hoje em dia, a cada dia, eu tô muito melhor e fazendo coisas que eu pensava que eu nunca ia fazer antes”, completou.

Vida também é o que a doação representa para a paraense Elaísa Leão Machado. Quando seu filho mais velho tinha 19 anos, se envolveu num acidente e teve morte encefálica. A ideia de doar os órgãos, segundo ela, surgiu do filho mais novo. “Eu perdi o meu filho, mas seis mães ganharam os delas, e isso me conforta”.

Em seu depoimento, Elaísa ainda confessou ter tido a oportunidade de conhecer o rapaz que recebeu o coração do filho. “Foi o dia da minha aceitação. Foi o dia que eu fiquei feliz e resolvi dar continuidade na vida”, finalizou.

Transporte de órgãos

A cerimônia também marcou a assinatura da renovação do acordo de cooperação para o transporte gratuito de órgãos, tecidos e equipe de transplantes. Firmaram o termo o ministro substituto da Saúde, Bruno Dalcolmo, os representantes das companhias aéreas da aviação civil (Latam, Gol e Azul), o Comando da Aeronáutica, a Secretaria de Aviação Civil, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e os aeroportos brasileiros.

Dalcolmo reservou um espaço na sua fala para enaltecer o perfil colaborativo das companhias aéreas. “As empresas aéreas têm sido muito parceiras do poder público, em diversos momentos, e têm aparecido de maior estresse nacional”, disse o secretário, fazendo alusão também ao transporte de vacinas pelas organizações durante a pandemia de Covid-19. Para Dalcolmo, essa postura é um dos motivos que fazem do Brasil “referência internacional” no quesito de transplante de órgãos e tecidos.

Fonte: Brasil 61

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