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O presidente Jair Bolsonaro visitou nesta terça-feira (2) o centro de memória do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, museu público israelense que lembra as vítimas e aqueles que combateram o genocídio de seis milhões de judeus pelos nazistas.

Bolsonaro visitou a exposição Flashes of Memory – Fotografia durante o Holocausto. Ele também depositou flores em homenagem às vítimas do nazismo e assinou o livro de honra do memorial.

Além do museu, o complexo Yad Vashem abriga um importante centro de pesquisas sobre o período nazista.

Em seu site, a instituição traz um breve histórico sobre a ascensão do partido nazista na Alemanha entre guerras.

'Protejam-se, não comprem de judeus': além de perseguir judeus, Holocausto também levou à morte de ciganos e homossexuais — Foto: Museu Yad Vashem

‘Protejam-se, não comprem de judeus’: além de perseguir judeus, Holocausto também levou à morte de ciganos e homossexuais — Foto: Museu Yad Vashem

Ao abordar a situação alemã após o Tratado de Versailles, que selou a paz entre as principais potências europeias após a Primeira Guerra, o museu explica que havia um clima de frustração que, “junto a intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do Comunismo, criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista”.

Em um post recente em seu blog, Metapolítica 17, Araújo escreveu que “a esquerda fica apavorada cada vez que ressurge o debate sobre a possibilidade de classificar o nazismo como movimento de esquerda”, explicando que, em um sua opinião, o nazismo foi um movimento de esquerda.

Araújo faz parte da comitiva que acompanhou Bolsonaro na visita ao memorial.

Direita ou esquerda?

A discussão sobre se o movimento nazista alemão teria as mesmas origens do marxismo ganhou fôlego com a polarização do debate político no Brasil.

Mas historiadores entrevistados pela BBC Brasil dizem que há uma “confusão de conceitos” que alimenta o debate e explicam que o movimento se apresentava como uma “terceira via”.

“Tanto o nazismo alemão quanto o fascismo italiano surgem após a Primeira Guerra Mundial, contra o socialismo marxista – que tinha sido vitorioso na Rússia na revolução de outubro de 1917 –, mas também contra o capitalismo liberal que existia na época. É por isso que existe essa confusão”, afirma Denise Rollemberg, professora de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF).

“Não era que o nazismo fosse à esquerda, mas tinha um ponto de vista crítico em relação ao capitalismo que era comum à crítica que o socialismo marxista fazia também. O que o nazismo falava é que eles queriam fazer um tipo de socialismo, mas que fosse nacionalista, para a Alemanha. Sem a perspectiva de unir revoluções no mundo inteiro, que o marxismo tinha.”

A ideia de uma “revolução social para a Alemanha” deu origem ao Partido Nacional-Socialista alemão, em 1919. O “socialista” no nome é um dos principais argumentos usados nos debates de internet que falam no nazismo como um movimento de esquerda, mas historiadores discordam.

“Me parece que isso é uma grande ignorância da História e de como as coisas aconteceram”, disse à BBC Brasil Izidoro Blikstein, professor de Linguística e Semiótica da USP e especialista em análise do discurso nazista e totalitário.

‘Besteira completa’

Em setembro do ano passado, em entrevista ao jornal “O Globo”, o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel, afirmou ser “uma besteira completa” dizer que o nazismo foi um movimento político de esquerda. O diplomata afirmou que há amplo consenso entre historiadores alemães e mundiais de que Hitler liderava uma corrente política de direita.

As declarações de Witschel foram dadas depois que a divulgação de um vídeo explicativo sobre o nazismo, publicado pela embaixada embaixada da Alemanha no Brasil e pelo consulado alemão no Recife (PE), provocou forte reação nas redes sociais no Brasil. Muito brasileiro contestou a representação alemã no país, questionando se o Holocausto realmente existiu e afirmando que o nazismo foi um movimento de esquerda.

Com a legenda “Os alemães não escondem o seu passado. Saiba como se ensina história na Alemanha”, o vídeo tem pouco mais de um minuto de duração. A ideia era ressaltar a importância de não se esquecer os crimes do nazismo entre 1933 e 1945, período em que o Holocausto levou à morte de cerca de 6 milhões de judeus e de 5 milhões de pessoas de outros grupos, como homossexuais e ciganos.

Fonte: Por Caio Quero, BBC — Jerusalém

Foto: Reuters/Ronen Zvulun

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